8º Caminhos para o Futuro abordou desafios da longevidade, estratégias de investimento e educação financeira para jovens

Cláudia Kodja, Thiago Nigro e Gustavo Cerbasi palestraram no evento da Fundação Família Previdência.

palco

A tarde desta quinta-feira, 25 de novembro, foi marcada pelo debate sobre finanças pessoais e educação previdenciária no 8º Caminhos para o Futuro da Fundação Família Previdência (FFP). A atividade encerrou o Connect, evento que une as programações do Caminhos para o Futuro e do Seminário Econômico. As palestras do dia foram apresentadas por Cláudia Kodja, Thiago Nigro e Gustavo Cerbasi, com mediação da jornalista Simone Lazzari, da RBSTV.

Na abertura do evento, o Diretor-Presidente da Fundação Família Previdência, Rodrigo Sisnandes Pereira, destacou a importância da educação financeira e previdenciária. Segundo ele, disseminar o conhecimento financeiro é fundamental para que as pessoas estabeleçam uma “relação saudável com o dinheiro e aprendam, desde cedo, a investir para realizar projetos de vida e alcançar a tão sonhada independência financeira”.

kodjaCláudia abriu o segundo dia de evento com a palestra “Aposentadoria, o desafio da longevidade”, na qual explanou sobre o aumento da expectativa de vida no mundo expondo números e refletindo sobre os problemas e as oportunidades geradas a partir dessa certeza. Já no começo da fala, ela mostrou em dados como se deu esse crescimento global, as diferenças entre as regiões do mundo e, também, classes sociais. Na Ásia, em 1960 as pessoas viviam, em média, 45 anos. Em 2019 (dado mais recente), 74. Na África, 41 em 1960, atualmente, 63. Na América Latina, pulou de 56 para 75. Na desenvolvida Europa e no rico Estados Unidos, a diferença é menor. Enquanto no Velho Continente o salto foi de 68 para 79, o que representa 16%, no país norte-americano de 70 para 79, 13%. Ela atentou para o fato de que há seis décadas nos países ricos as pessoas já morriam bem mais tarde.

Especificamente no Brasil, a população com 60 anos ou mais aumentou quase 8% entre 1960 e 2020, o que representa quase 30 milhões de pessoas a mais vivendo simultaneamente. Porém, tal dado visto isoladamente esconde uma dura realidade, a de que viver por mais tempo não chega para todas as classes sociais. Enquanto nas classes A e B a população com 60 anos ou mais representa 23,3% sobre o total, na C, esse número cai para 18,5% e nas D e E, 7,6% e 3,6%, respectivamente. De acordo com a palestrante, tais percentuais escancaram um problema que a Reforma da Previdência acentuou, apesar dos seus benefícios na conjuntura fiscal.

“Aumentar o tempo de contribuição e cortar benefícios não corresponde a uma reforma de previdência social. Primeiro, porque viver mais não significa capacidade de trabalhar por mais tempo. Segundo, não implica em aumento de vagas de trabalho. E, por último, como os números mostram, o aumento da longevidade não reflete na sociedade da mesma forma”, salientou.

A gestora de investimentos e empreendedora apresentou, ainda, os riscos e as oportunidades gerados pela melhora na expectativa de vida. Quanto aos riscos, os três principais são: custos com saúde – devido ao aumento de doenças crônicas e à necessidade de investimentos altos em novas tecnologias -, exclusão no mercado de trabalho – em razão da queda de produtividade e da resistência a mudanças e inovações, além da invisibilidade imposta a essas pessoas – e empobrecimento – como consequência do déficit previdenciário, da correção monetária e da falta de plano de usufruto.

Como dica para redução de danos, Cláudia trouxe a importância do planejamento. A palestrante acredita que a sustentabilidade na aposentadoria virá com um conjunto de estratégias composto de previdência social e privada, seguros, continuação do trabalho, composição familiar, downsize residencial e revisão do custo de vida.

Nas oportunidades, ela elencou novos aprendizados, estado de independência, aceleração de antigas ideias e distribuição de conhecimentos.

“O estado de independência é composto por aumento da autonomia, possibilidade de novas carreiras e competências, principalmente empreendendo, e diversificação das categorias de vínculo. A aceleração de ideias é baseada na independência, na execução de talentos que não eram colocados em prática e no desenvolvimento de inovações”, explicou.

Por fim, Cláudia salientou que opções de investimento não precisam ser difíceis e as dividiu em duas ramificações: bens, relacionada à busca por propriedades privadas, e títulos, divididos em públicos de renda fixa, privados de renda fixa e privados de renda variável.

nigroNa sequência, Thiago Nigro, considerado o maior influenciador de investimentos do mundo, com audiência que chega a 15 milhões de pessoas por mês, falou sobre “Transformando ação em liberdade”. Nigro, que já alcançou a tão sonhada independência financeira, deu conselhos de como se chegar a esse patamar por meio de metáforas para facilitar a compreensão.

O palestrante começou contando um pouco da sua trajetória de interesse pelo mercado ainda muito jovem e com poucos recursos. Logo cedo, quebrou. Para ele, por começar errado. Mas pela perspectiva de aprender com o erro, acredita que quebrou no melhor momento. Após o erro, começou a estudar e se apaixonou pelo mercado ao longo desse processo, mesmo após perder dinheiro. O estudo permitiu a Nigro identificar que as razões da perda foram ignorância, arrogância e ganância. “Descobri muita coisa. E descobri, sobretudo, que eu me considerava investidor sendo limitado”, contextualizou.

Depois disso, e de retomar os investimentos, ele tentou empregos relacionados ao mercado de capitais, sem sucesso. Foi barman e garçom até se tornar assessor de investimentos, criar um escritório, vender o negócio e colocar a cara na internet. Para ele, o segredo para a construção da liberdade financeira está na reflexão da relação tempo e dinheiro. “Em vez de pensar que você paga pelo que consome com reais, exercite o raciocínio de quanto tempo de trabalho e vida aquele valor corresponde”, aconselhou.

De acordo com o criador do projeto Primo Rico, quando se raciocina sobre isso, muda-se a percepção do dinheiro e passa-se a querer poupá-lo. “O tempo é nosso principal ativo e moeda de troca, artigo escasso e valioso que as pessoas insistem em vender ao invés de comprar. A maioria não está disposta nem tem paciência para acumular patrimônio e acaba antecipando vontades. Adquirem no presente itens que poderiam comprar futuramente, e o tempo cobra em forma de juros. Quando se dá esse passo por necessidade, é compreensível, mas adiantar sonhos por falta de conhecimento é um passo ruim. Ao se adiar a compra, ganha-se crédito no futuro em horas. Ao abrir mão do gasto e investir o valor, o dinheiro passa pelo fator tempo, que tem preço e multiplica capital, gerando um efeito bola de neve poderoso”, detalhou.

Por meio de outra metáfora, ele falou que aplica seus investimentos pelo método próprio ARCA, em alusão a história bíblica de Noé e um acróstico de “ações e negócios”,  “Real State”, “cash” e “ativos internacionais”.

“Com essa diversificação, da mesma forma que Noé se blindou do Dilúvio, me blindo de crises e faço delas oportunidades para crescer meu patrimônio, pegando a parte da carteira que não sofre para investir no que cai”, pontuou.

Dentre os investimentos recomendados por Nigro está o de previdência privada. “O jovem tem muito preconceito, acha que é ultrapassada, cria-se um estigma porque algumas são ruins. Mas trata-se de um dos melhores produtos de longo prazo, com taxas e características que deveriam ser mais bem conhecidas. Na previdência, essa relação tempo e paciência faz todo o sentido, pois chega a 10% do imposto de renda, porém, é preciso esperar. Quem consegue, sai na frente”, finalizou.

cerbasiO escritor, consultor financeiro e professor Gustavo Cerbasi encerrou a programação do Connect ao conversar com o público sobre educação financeira para jovens e o desafio de abordar o tema com eles. A palestra de Cerbasi foi ao encontro do que disse Nigro, pois trouxe à tona os anseios de ganhos rápidos por parte dessa parcela da população. “Ensinar aos jovens de que forma melhorar a capacidade de tomar decisões e como lidar com crédito e recursos é uma missão importante e de responsabilidade”, afirmou.

Um dos primeiros exemplos trazidos, para iniciar a reflexão, foi o cálculo de poupar R$ 100 ao mês para o filho desde o seu nascimento. Com rendimento de 10% ano ano, ao alcançar a maioridade, teria-se R$ 57.640,00. Sem o acréscimo de contribuição e com o mesmo rendimento, aos 50 anos essa pessoa teria R$ 1.216.994 e aos 70 R$ 8.187.326. “É fundamental transmitir o conceito de segurança e amadurecimento de escolha para que as pessoas sejam mais tranquilas e se permitam celebrações constantes. Porém, na prática, a aplicação dessa tabela é difícil de se concretizar por falta de motivação. Em momentos de crises – pessoais ou na economia -, por exemplo, corta-se os valores gastos com experiências e lazer, que são fontes de bem estar, para se honrar as contas fixas, o que gera decepções e por vezes não evita a inadimplência, mas se faz necessário”.

O professor comentou que, em suas aulas, ensina os princípios da inteligência financeira para a estratégia correta de investimento, baseada no tripé reserva de emergência, garantia de renda futura com plano de previdência e investimento de risco, necessariamente nesta ordem.

“O grande erro dos jovens está em pular as duas primeiras etapas. Eles veem exemplos de investidores que enriquecem rápido e criadores de unicórnios e querem repetir os feitos, deixando de atentar para a base do processo de independência financeira”, acrescentou.

Segundo Cerbasi, o caminho para uma vida mais rica está em fazer boas escolhas, amadurecê-las, buscar saber o que se quer para entender do que se pode abrir mão. A partir desse ponto, olhar para a situação atual e definir um objetivo principal e vários outros menores. Realizá-los gradativamente permitirá uma vida mais tranquila, de celebrações constantes, motivações e mais momentos de alegria que permitem sentir felicidade. Dessa forma, é possível ser exemplo para os filhos e garantir que eles não se tornem soldados de uma construção de riqueza focada apenas em crescimento de patrimônio ou cumprimento de obrigações que não atentem ao lazer – sempre focados na sabedoria financeira.